quinta-feira, 10 de março de 2011

ESPIRITUALIDADE: Reflexão a partir das leituras - I Domingo da Quaresma

I LEITURA - Gn 2, 7-9; 3, 1-7
SALMO RESPONSORIAL - 50
II LEITURA - Rm 5, 12-19
EVANGELHO - Mt 4, 1-11


A Quaresma constitui um tempo litúrgico em que a Igreja nos convida a refletirmos sobre o nosso agir cristão. Convoca-nos a uma plena mudança de vida, de revermos nossos conceitos e ações.
A liturgia deste primeiro Domingo da Quaresma nos mostra o caminho percorrido por toda a humanidade, entre os dois percursos: de um lado, o seu desejo de viver o projeto de Deus, do outro, o poder do mal que atormenta cada cristão decorrido do pecado original.
Na Primeira Leitura, (Gn 2, 7-9; 3, 1-7), temos inicialmente a bondade de Deus que forma o homem (v. 7) e coloca a sua disposição todos os aspectos atraentes (2, 9). Somente num segundo momento, a sedução do mal é apresentada, que o autor sagrado, a personifica na serpente (3, 1).
Interessante perceber que a mulher, uma vez se aproximando da serpenta, ou seja, enquanto dialoga com ela, aos poucos vai sendo atraída pela mesma, de tal forma que por duas vezes deturpa a mensagem de Deus: a primeira quando se refere ao não comer do fruto da árvore que se encontra no meio do jardim (3,2), enquanto que Deus em Gn 2, 9 orienta que somente desta árvore, árvore da vida, é que se deve comer. A segunda é que ela, a mulher, acrescenta palavras às de Deus. Não tocareis (3,3) enquanto na verdade Deus pede apenas para não comer os seus frutos.
O pecado é, pois, ofuscar a mensagem de Deus. É ir contra a sua vontade, Isto é, desobedecer ao seu projeto o que provoca um rompimento vertical (com Deus) e por um só fruto (3,6) suscita um "desligamento horizontal", ou seja, não existe um pecado pessoal, individual, sem que não haja uma conseqüência "social", comunitária. Ele uma vez cometido, passa a ser vivido também nos outros.
Na Segunda Leitura da Carta aos Romanos, (Rm 5, 12-19), Paulo nos apresenta este "marido", o homem velho seduzido pelo pecado e o homem novo, Jesus Cristo. O velho Adão é a figura provisória daquele que devia vir (v. 14) e mostra os frutos da ação de ambos. Adão transgride a lei e leva a multidão humana à morte (rompimento vertical). Deus, de um modo bem superior e abundante, derrama a sua graça como dom gratuito sobre todos (ligamento vertical-horizontal). Por meio daquele o pecado resultou em julgamento, por meio de Cristo, o dom da graça justificou. Por meio de Adão a morte começou a reinar, por intermédio de Cristo, a vida superabundou. Pela falta de Adão acarretou a condenação, pelo ato de justiça de Cristo veio à justificação. Pela desobediência do velho homem, Adão levou a todos uma situação de pecado, mas pela obediência de um só homem, Jesus Cristo, este levou a humanidade toda a uma situação de justiça. Neste sentido, a Constituição Gaudium et Spes, número 22 afirma: "... Adão, o primeiro homem, era efetivamente figura daquele futuro, isto é, de Cristo Senhor. Cristo novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime...".
O Evangelho (Mt 4, 1-11) nos mostra a tensão destas duas forças antagônicas: aquela que é nata a pessoa humana de fazer o bem e aquela que é fruto do pecado. Jesus por três vezes é tentado pelo diabo (v.1). Inicialmente ele pede a Jesus que transforme as pedras em pães. Fato semelhante acontece com a mulher da primeira leitura. Ela é seduzida e come o fruto da perdição, Jesus sabiamente responde com as palavras de Deus afirmando que o homem não vive somente do pão, do fruto, mas também da Árvore da vida.
Da segunda vez o tentador leva Jesus à cidade santa (v. 5), a parte mais alta do templo. Um lugar privilegiado, da mesma forma que Deus colocou o homem no Jardim do Éden. Jesus, no entanto, não cai no precipício, os seus olhos embora abertos contempla, desde então, a pureza e a nudez da criação de Deus. Por último, o diabo leva Jesus para um monte muito alto (v. 8), afim de que, deste lugar Cristo governe o reino do mundo. Jesus com sua sabedoria divina o expulsa porque o "seu Reino não é deste mundo".
A liturgia deste primeiro domingo da Quaresma nos oferece muitos pontos práticos que podemos aplicar no nosso dia-a-dia. Primeiro, o pecado nos atrai e, deste modo, encontramos sempre desculpas para não participar da vida da comunidade e vivermos em "nosso cantinho"; ele abre os nossos olhos para as coisas do mundo e passamos a adorar outros deuses, basta verificarmos quantas pessoas não faz do seu corpo um deus? e mais, o pecado mesmo sendo pessoal, individual, ele sempre se desmancha no meio da comunidade;
Quantas pessoas em nossas paróquias, áreas e comunidades não estão com as tangas do velho Adão, tecidas com o desânimo e os frutos do gosto ruim? que querem viver sempre na desobediência da comunidade e criando para si o novo Adão?
Por fim, a tentação aparece também àqueles que rezam. Quem reza não está isenta dos sofrimentos da vida, no entanto, pode enfrentá-los com mais ousadia e sabedoria. A pessoa que reza não é seduzida pelos elogios nem pelo status, nem muito menos, se afasta do projeto de Deus, pois quem a escolhe é o próprio Cristo, ou seja, os chamados e escolhidos por Deus faz um movimento ascendente: com Cristo eles seguem e fazem uma experiência na montanha (Mt 17, 1), e quando o inverso acontece, isto é, quando somos nós que nos escolhemos para executar a missão de Deus escolhemos sempre as partes mais altas do templo (Mt 4, 5) ou o monte muito alto para que as outras pessoas nos vejam acontecendo assim um movimento descendente.
A Quaresma, portanto, que hora iniciamos é um convite que Cristo nos faz para sermos pessoas novas n’Ele, por Ele e com Ele. A vencermos nossas tentações de cada dia e a continuarmos sempre conduzidos pelo Espírito que nos dá nova vida, rezando e pedindo com o salmista: Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido (Sl 50).


POR: Wagner Francisco de Sousa Carvalho (Seminarista)
POSTAGEM: Júnior Sá

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