A Santíssima Trindade é a contemplação de um Deus que é amor e se revela na comunhão. Por isso, o seu mistério não deve ser entendido à luz da simples inteligência como se tratasse de uma fórmula matemática, mas à luz da fé, que por sua vez, exige que nossa mente penetre na sua mais íntima profundidade.
Deste modo, a Santíssima Trindade supera um querer entender apenas de um Deus uno que vive e se manifesta em três pessoas, mas ultrapassa tornando um Deus que é comunhão de amor segundo o qual se desvela nas manifestações simples do aparente mistério da vida.
Por isso faz necessário entender em, um primeiro momento, o que se pode afirmar sobre a palavra mistério. A sua etimologia vem de uma experiência muito bonita: muein em grego e significa falar baixinho, sussurrar, ou seja, a própria palavra nos ajuda a entender que falar de mistério requer que falemos baixinho, isto é, que a ele nos dirijamos respeitosamente, silenciosamente. Mistério é, portanto, falar de coisas bonitas, que nos tocam por dentro, na alma. Por outro lado, a palavra trindade, segundo o dicionário Aurélio, remete ao grupo de três ou coisas semelhantes. É a união das três pessoas em um só Deus.
Posto isso, podemos afirmar que o mistério da Santíssima Trindade é uma das maiores revelações feita por Deus ao ser humano em Jesus Cristo e, que por meio d’Ele, manifestou o mistério da beleza fazendo toda a humanidade se tornar a comunidade inspirada no amor pleno. Por isso, ao participarmos da Santa Missa, por exemplo, observamos que, desde o início, quando nos benzemos, até o momento da bênção trinitária final, constantemente o sacerdote invoca a Santíssima Trindade, particularmente durante a oração eucarística. As orações que ele pronuncia após a consagração e recolhimento são dirigidas a Deus Pai, por mediação de Jesus Cristo, em unidade com o Espírito Santo. E é na missa onde o cristão logra vislumbrar, pela graça do Espírito Santo, o mistério da comunhão da Santíssima Trindade.
Trata-se, portanto, de um grande mistério e central da fé cristã. A Sagrada Escritura é clara a respeito da Santíssima Trindade, desde o antigo, até o novo Testamento, pois houve uma preparação deste mistério. Preparação esta que, desde o primeiro momento, manifesta esta comunhão intrínseca entre as três pessoas. Aliás, ela, a comunhão, é sempre esta grande característica existente no interior da Santíssima Trindade que por ser tão unidas manifestam a unidade por excelência.
É bom deixarmos claro que desde o princípio já está presente a comunhão entre as três Pessoas da Trindade. Deus é o Pai, o Filho e o Espírito Santo em comunhão recíproca; eles coexistem desde a eternidade... cada pessoa envolve as outras, todas se interpenetram mutuamente e moram umas nas outras. É a realidade da comunhão trinitária, tão infinita e profunda que os divinos Três se unem e são, por isso, um só Deus. A unidade divina é comunitária, porque cada Pessoa está em comunhão com as outras duas” (Boff, 2009, p. 26).
Na compreensão popular dois fatos merecem atenção com relação a Santíssima Trindade. O primeiro é quando falamos em mistério pensamos logo em algo confuso, difícil e, justamente, por isso, preferimos deixar de lado. Temos então, o contrário daquilo que a etimologia da palavra afirma ser, ou seja, falar baixinho, sussurrar. Segundo é que, quando falamos no agir comunitário da Trindade, logo imaginamos primeiramente em um Deus como Ser infinito, Onipotente, criador do céu e da terra e que vive sozinho no céu e, em seguida, as Pessoas do Filho e do Espírito Santo. Este imaginário comum, na verdade, precisa ser superado. O mistério, por sua vez, deve ser nossa força de atração de nos lançar e nos motivar para ir ao seu encontro. Devemos ter o espírito de pesquisador de ir e desvendar o seu segredo. Por outro lado, a comunhão da Santíssima Trindade não se isola em si mesma, sendo, portanto, um segredo, algo inconcebível. Ao contrário, ela se abre para fora, há um desdobramento de vida e de comunhão das Três divinas Pessoas, por isso, “no princípio está não a solidão do Um, de um ser eterno sozinho e infinito. Mas, no princípio está, a comunhão dos três Únicos. A comunhão é a realidade mais profunda e fundadora que existe” (L. Boff, 2009, p. 26).
Podemos então, nos perguntar: o que de mais prático a comunhão da Santíssima Trindade pode nos deixar como exemplo? há sinais no mundo desta comunhão? podemos afirmar que o homem é este exemplo mais concreto e visível que podemos dar. Lembremos do que falemos inicialmente sobre o mistério. Só o homem pode penetrar em seu silêncio, penetrar em seu próprio eu, entrar no lugar sagrado, reverenciar e agir respeitosamente. O homem, neste sentido, é a imagem da Santíssima Trindade.
Por outro lado, o ser humano não existe isolado, um ser sozinho, conquistador, fechado em sua própria autonomia, mas é um ser em relação. Por isso, o seu falar é um sinal de normalidade, de partilha porque quem nos criou não foi um Deus solitário, fechado nele mesmo. Somos o que Deus criou em nós e, sendo Ele comunidade, dom de si para o outro, aquele que juntamente com o Filho, criou uma comunidade com o Espírito, só podemos querer nos derramar para as pessoas, porque não fomos criados por uma solidão, mas por uma comunhão.
Portanto, o ser humano é o retrato da Santíssima Trindade no qual o mistério encontra lugar e a comunhão gera espaços de partilha, alegria, fraternidade e, acima de tudo, a abertura para o outro. Aqui ele, o ser humano, encontra o seu ícone da plena perfeição.
POR: Wagner Carvalho
Seminarista do 4º ano de Teologia
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