Assim será o nosso fim
O homem moderno em meio aos avanços técnicos e científicos tem encontrado respostas para muitas de suas perguntas, no entanto, quando se trata da morte, se sente desafiado por algumas dúvidas que pairam nos seus pensamentos: para onde vamos, mesmo, após a morte? O que nos espera “lá”, depois desta vida? Tem sentido, esperarmos pela salvação em Jesus Cristo?
Muitos destes homens procuram por respostas, outros decidiram viver unicamente esta vida, pois segundo eles, “deve mesmo é aproveitá-la enquanto pode”. Contudo, do ponto de vista da fé e, até mesmo, numa esfera filosófica-existencial, ele, o homem, contém elementos que ultrapassam seus próprios limites, como por exemplo, a vontade, a esperança...
A solenidade da Assunção de Nossa Senhora, para os dias de hoje, é uma resposta a estas inquietações e antecipa o que acontecerá com “todas as pessoas de bem, no final dos tempos (Faria, 2006, p. 181). Assim descrevia o Papa Pio XII, em 1950, na sua proclamação: “a imaculada mãe de Deus, sempre virgem Maria, cumprindo o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma celestial” (Pio XII, bula Munificentissumus Deus).
Todavia, quais as indicações que Maria, assunta ao céu, nos deixa como legado para que possamos percorrê-las com boa vontade e, assim termos nosso fim semelhante ao teu? Citando o Evangelista Lucas (1, 39-56) diria que são três. Vejamos:
Primeira. Maria visita sua prima Isabel. É uma mulher cuidadosa e preocupada com as pessoas e, de modo especial, as de sua família. Contrariamente, aos dias de hoje em que esta virtude se torna ausente, pois os parentes não mais se visitam, satisfazem apenas em telefonar, enviar emails e, quando se encontram para festejar, é numa pizzaria, Maria, pelo contrário, visita passando dias e meses, ou seja, não volta no mesmo dia, não tem pressas, por isso, ela permanece por três meses (1, 54) na casa de sua prima. Esta é uma rica indicação para os dias de hoje.
Segunda. Consiste na sua humildade. Os nossos sofrimentos, na maioria das vezes, são frutos das nossas auto-suficiências. Achamos, na nossa ignorância e orgulho, que podemos tudo e, na verdade, é Deus que delibera nossos planos. “Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes” (1, 51-52). A humildade é o escopo do sucesso e a garantia de uma vida feliz.
Terceira. Remete ao compromisso social. O homem é o instrumento por meio do qual toda a criação sobe ao Criador e, pelo mesmo, Deus desce até as suas criaturas. Portanto, toda a sua ação reflete em si mesma as pegadas do seu Criador que quer amor e não sacrifícios, justiça e não iniqüidades. Por isso, Deus cumula de bens os necessitados e despede de mãos vazias os ricos com a função de “instaurar uma verdadeira fraternidade na sociedade e entre os povos” (Bertolini, 2000, p. 769).
Aqui se encontra as indicações e, ao mesmo tempo, a atualidade desta solenidade. Os passos deixados por Maria devem nortear o nosso agir e, com razão, eles apontam o rumo certo do homem após a sua morte, e como se isso não fosse suficiente, mesmo na aparente e amarga estrada desta vida, Jesus, o Filho de Maria, também vem nos visitar. Assim será o nosso fim na sua presença.
FONTE: Blog do Seminarista Wagner
(Seminarista do 4º Ano de teologia)
Acesse: http://wagnerteo.blogspot.com/
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Reflexão segundo as leituras do XIX Domingo do Tempo Comum
A voz de Deus em meio às realidades de nosso tempo
O mês de agosto é visto na tradição popular como o mês do desgosto, do azar, dos ventos. Na Igreja, cada domingo deste mês, é dedicado a uma vocação específica: sacerdotal, matrimonial, vida religiosa e laical. Neste primeiro domingo se recorda, portanto, a vocação sacerdotal em sintonia com as leituras próprias do dia. Assim, temos Deus que chama o profeta Elias; Paulo que fala com uma grande tristeza e dor contínua sobre os seus compatriotas e, Jesus que convida Pedro para caminhar sobre as águas do mar.
As novas diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil (2011-2015), no número 48, destacam que nosso tempo “traz em si uma ambigüidade. Estamos num tempo de muitas falas, muitos ruídos, muito barulho... o mundo fala, mas tem sede de palavra que guia, tranqüiliza, impulsiona, envolve ajuda a discernir”.
Como distinguir a voz de Deus nos dias atuais diante de tantas vozes no mundo? As leituras deste domingo nos dão os passos para discernir e optar por ela. Tanto a primeira leitura (1 Rs 19, 9.11-13) como o evangelho (Mt 14, 22-33) falam de barulhos e tempestades. O profeta Elias na expectativa de ver o Senhor põe-se na espera (1 Rs 19,11) e nela, é surpreendido por um vento impetuoso e forte; por um terremoto e por um fogo; posteriormente a tudo isso, é que se aproxima num murmúrio de uma leve brisa (1 Rs 19, 12) o Senhor sendo, portanto, esta voz silenciosa e impulsionadora.
A mesma sensação de agitação aparece no Evangelho quando a barca que os discípulos estava era sacudida (Mt 14, 24) pelas águas do mar. Eles demonstravam-se esmorecidos diante do medo, haja vista que o mar, na mentalidade judaica, era o lugar do medo, do não dominado, do mal, de onde vinha o Leviatã, o demônio.
Podemos notar que, tais desafios anteriores, tornam-se os mesmos de hoje comparados nas situações de quem segue Jesus. Toda vocação configura-se na moldura de um tempo de tempestades e brisas suaves. A vocação de Elias é marcada por estes acontecimentos: ele tem um contato próximo com Deus; fala em nome de Deus; apresenta medo em assumir a missão e suas conseqüências inevitáveis. No entanto, em meio a tudo isso, Deus não deixa sozinho o seu escolhido, pois Ele está sempre presente em todos os momentos, diz Mateus, que era por volta das três horas da manhã que Ele chegou até os discípulos. Pode ser que em meio a tantas vozes ofuscantes muitos cheguem a pensar que Jesus seja um fantasma (Mt 14, 26) em suas vidas, um “simples caminheiro” objetivando limitar suas liberdades e o seu modo de pensar e agir.
Porém, a finalidade de Jesus é nos salvar. Ele quer nos pegar pela mão (Mt 14, 31) nos colocar na “barca” de volta e, acalmar nossas tempestades, muitas delas oriundas, de outras vozes como era as dos concidadãos de Paulo que deixaram de ganhar a herança dada por Deus para seguir os seus próprios caprichos (Rm 9, 1-5).
A voz de Cristo que ecoa por meio da pergunta: por que duvidaste (Mt 14, 31) torna-se bem presente para todos nós. Ela deve ser a nossa resposta diante das dúvidas, medos e tempestades. Nesta mudança de época não podemos mais continuar tentando caminhar sozinhos como se fossemos super-heróis. É preciso retornar a barca, a Igreja, como lugar seguro, apesar do mar violento e perigoso. A voz de Deus sempre estará mergulhada pelas realidades do mundo, mas só ela poderá nos animar e, assim cantarmos confiante a música: “se as águas do mar da vida quiserem te afundar, seguras nas mãos de Deus e vai...”
POR: Wagner Carvalho
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Reflexão segundo as leituras do Domingo de Pentecostes
A Igreja assistida pelo Espírito Santo
Durante os cinqüenta dias da páscoa fizemos recordações dos sentimentos de dor, morte e ressurreição dos discípulos de Jesus e as aparições do Mestre a eles, ora caminhando, ora aparecendo quando se encontravam reunidos. No dia de Pentecostes, porém a comunhão com o ressuscitado é completada, levada à plenitude, pelo dom do Espírito, que continua em nós a obra do Cristo e sua presença gloriosa.
Mas qual é a mensagem central da liturgia desta celebração? Por que Lucas a apresenta cinqüenta dias depois (I leitura) e João ao anoitecer do mesmo dia? Será que Cristo não teria cumprido plenamente o seu projeto e agora quer deixar o Espírito para completar? ou será que Ele então, confia a Igreja para que ela, assistida pelo Espírito, perda o medo e comece anunciar o evangelho? E mais: em um mundo tão materialista, racional, científico, será que há espaço para o Espírito Santo? E os dons e carismas que possuímos são frutos da nossa docilidade ao Espírito ou aduzimos aos nossos próprios esforços e caprichos?
Comecemos pela origem desta solenidade. Pentecostes remonta a uma festa judaica, celebrada cinqüenta dias após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo; mas, no século I, tornou-se a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de Deus. É neste sentido que entendemos a primeira leitura (At 2, 1-11). O número de judeus devotos de todas as nações do mundo presentes naquele momento remete a celebração da terceira grande festa (Páscoa, Tabernáculos e celebração da Aliança) em que eles subiam em romaria a Jerusalém para celebrá-la.
É aqui que Lucas quer destacar a missão da Igreja para fora dos “seus muros”. O sopro do Espírito se faz perceber como um vendaval ao ouvido, como fogo aos olhos e, assim transforma um pequeno rebanho de apóstolos reunidos em Igreja missionária. O prefácio desta solenidade assim resumo formidavelmente: “Desde o nascimento da Igreja, é ele quem dá a todos os povos o conhecimento do verdadeiro Deus; e une, numa só fé, a diversidade das raças e línguas”.
Portanto, a Igreja assistida pelo Espírito Santo é aquela que anuncia a missão proclamadora como realização do próprio Senhor e não como um prêmio pessoal que cada um conquista com suas qualidades. Aliás, é neste sentido que Paulo (II Leitura) adverte que, do mesmo Espírito provém a multiplicidade dos dons, comparada às múltiplas funções que movimentam um corpo. Por isso, nossos dons e carismas devem ser postos em vista do bem comum (1Cor 12, 7), pois eles insurgem de uma única e mesma fonte: fomos batizados num único Espírito para formarmos um único corpo e bebermos de único Espírito.
O Evangelho de São João, por sua vez, situa no anoitecer do dia de Páscoa a recepção do Espírito pelos discípulos. Como vimos nos “Atos”, Lucas narra a descida do Espírito sobre os discípulos no dia do Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa e, já afirmamos também o motivo, que é sem dúvida por razões teológicas e para fazer coincidir a descida do Espírito com a festa judaica do Pentecostes, a festa do dom da Lei e da constituição do Povo de Deus.
Interessante percebermos na narrativa do evangelho (Jo 20, 19-23) a situação da comunidade antes de receber o Espírito. Ela está ao anoitecer com as portas fechadas e com medo (v. 19) É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar, no entanto, de repente Jesus entra e, se põe no meio deles e deseja a paz como fruto do Ressuscitado fazendo com que de repente, o clima mude.
É importante nos prender a essa mudança de sentimentos, isto é, quando uma comunidade quer caminhar sem Cristo, os inimigos os apavoram, o medo bate e os carismas e dons são vistos como conquistas pessoais. Em acréscimos pode ainda notificar o isolamento em seu próprio mundo sem espaços para o próprio Cristo. Será que nas comunidades cientificas há espaços para Cristo? Será que nos dias de hoje temos a abertura ao Espírito Santo para que ele entre em nossas vidas?
Cristo chega nos momentos difíceis dos discípulos e deseja a paz. Eles se alegram, as esperanças voltam e a missão ressurge, mostra as mãos e o lado como testemunhas da doação total pelo Reino e sobra sobre eles o Espírito santo (v. 22). Jesus transmite então, aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo. Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados, como Jesus, para fazerem da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar, com gestos e com palavras, o amor de Jesus.
Finalmente Jesus aponta a missão dos discípulos (v. 23): a eliminação do pecado. Pelo ministério recebido à luz do Espírito santo os seus discípulos podem perdoar ou reter os pecados. Esta é primeira missão a qual eles são chamados a testemunhar no mundo.
Portanto, no dia de Pentecostes, a páscoa de Cristo se realiza na efusão do Espírito Santo, que é manifestado, dado e comunicado como Pessoa Divina: de sua plenitude, Cristo, Senhor, derrama em profusão o Espírito (CIC, n. 731). Pudemos assim constatar, com alegria e gratidão, que “na Igreja há um Pentecostes também hoje, ou seja, que ela fala em muitas línguas; e isto não só no sentido externo de estarem nela representadas todas as grandes línguas do mundo mas também, e mais profundamente, no sentido de que nela estão presentes os variados modos da experiência de Deus e do mundo, a riqueza das culturas, e só assim se manifesta a vastidão da existência humana e, a partir dela, a vastidão da Palavra de Deus”. Além disso, pudemos constatar também um Pentecostes ainda a caminho; vários povos aguardam ainda que seja anunciada a Palavra de Deus na sua própria língua e cultura. (Bento XVI, Verbum Domini, n. 4)
Peçamos, pois ao Espírito Santo a docilidade para falarmos aos corações medrosos; as palavras certas para quem está preso no seu mundo e, uma língua aguçada para declamarmos o poema do amor caracterizado nos sinais que Cristo no deixou.
Wagner Carvalho
Seminarista Quarto Ano de Teologia
Seminarista Quarto Ano de Teologia
Reflexão segundo as leituras do 6º Domingo da Páscoa
O Testamento de Jesus: “não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18)
A liturgia do sexto domingo da páscoa continua a nos dar os significados profundos da ressurreição de Cristo para todos nós e já nos insere no clima de Pentecostes. De modo especial, temos presente, neste Domingo, o testamento de Jesus, ou seja, a sua promessa para os seus de continuarem a missão assistidos pelo Espírito da verdade.
A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos (At 8,5-8.14-17) mostra exatamente o testemunho de Filipe que anuncia as multidões e estas o seguem com atenção (v. 6). O testemunho do homem escolhido enche a cidade de alegria e a faz tornar uma nação escolhida em escutá-lo.
Na segunda leitura o testamento deixado é que os corações sejam santificados para que estejam prontos a dar razões da esperança e, isso deve fazer na mansidão, respeito e com boa consciência (1Pd 3,15-16).
Mas qual é a finalidade do testamento de Jesus? de onde ele vem e para quem ele será? Para que se tenha testamento é preciso ter herança e qual a herança que Jesus quer deixar? Há um adágio conhecido em nosso tempo que diz a educação ser a maior herança que os pais podem deixar para seus filhos, mas Cristo não falou de sabedoria e sim do Testamento de não deixar órfãos (Jo 14, 18) os seus apóstolos.
Com efeito, só é capaz de herdar uma herança e de deixar algo em testamento quem tem um laço de amor, quem tem um apreço e um carinho por uma pessoa, pois ela não é adquirida nem deixada por meio de associações nem de sensacionalismos. Por isso, Jesus começa no evangelho dizendo: se me amais, guardareis os meus mandamentos (Jo 14, 15), dito com outras palavras, se me amais recebereis minha herança.
Por isso, o testamento deixado por Jesus é o Espírito da verdade (Jo 14, 17), o Defensor, o Paráclito, para os que amam, afim dos mesmos conduzirem a comunidade cristã em direção à verdade e levá-la a uma comunhão cada vez mais íntima com Jesus e com o Pai tornando-a “morada de Deus” no mundo e dando testemunho da salvação que Deus quer oferecer aos homens.
Assim sendo, a comunidade reunida torna a testemunha da ação do Espírito que almeja levá-la à herança reservada. A multidão deixa seu estado de órfão e adquire pela imposição das mãos elevadas a confirmação de sua missão tornando-se preparada a dar razão de sua esperança como afirma São Pedro: santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir (1Pd 3, 15).
Por que Cristo resolve deixar o Espírito como testamento? A resposta encontra-se na primeira leitura deste domingo. Diz que Filipe anunciava em Samaria o Cristo e as multidões o escutavam e ficavam alegres, pois já eram batizadas (At 8, 16), no entanto, somente com a chegada de Pedro e João elas recebem o Espírito Santo. Por que isso? Provavelmente, significa que a adesão dos samaritanos ao Evangelho era superficial, talvez mais motivada pelos gestos espetaculares que acompanhavam a pregação de Filipe, do que por uma convicção bem fundada, e que não havia ainda, entre eles, uma verdadeira consciência de pertencer a essa grande família de Jesus que é a Igreja universal. O Espírito aparece, aqui, como o selo que comprova a pertença dos samaritanos, depois de unidos à Igreja universal e em comunhão com ela, à Igreja de Jesus Cristo.
Portanto, o batismo não é mera associação a Cristo, nem o Espírito Santo um “manancial” de sentimentos com a finalidade de consolar os aflitos, mas de confirmar os órfãos a herança prometida a qual já conhecemos por meio do próprio Cristo.
Mais quem são os órfãos de hoje? No Antigo Testamento, o “órfão” é o protótipo do desvalido, do desamparado, do que está totalmente à mercê dos poderosos e que é a vítima de todas as injustiças. Jesus, porém não quer que os seus discípulos fiquem indefesos, pois Ele vai estar ao lado deles. Porém, os órfãos nos dias de hoje ocupam uma nova classe, talvez sejam aqueles que perderam o encanto pela Igreja de Jesus, os que se encontram imersos no “espírito do medo”, que se alegram e dão ouvidos aos falsos profetas, que buscam outros defensores e acreditam apenas no material, neste mundo. A estes o Espírito da verdade continua sendo companheiro, mesmo estando em relação de oposição com o mundo, o qual não pode ver nem reconhecer (Jo 14, 17), mas permanece agindo como um mestre que explica as conseqüências daquilo que Jesus falou: não vos deixarei órfãos (Jo 14, 18).
Convictos que Cristo não rejeita nossa oração nem afasta para longe o seu amor (Sl 65, 4), peçamos, pois, ao Espírito da Verdade que nos faça homens da herança e nos dê a força do empenho necessário para sermos capazes de dar razões da esperança a tantas “multidões” que se encontram órfãs da Verdade, da comunidade de fé, que não mais encontram razões nem defensores para ajudarem a readquirirem a herança que Jesus deixou para cada um. Assim seja amém!
POR: Wagner Carvalho
Seminarista do 4º ano de Teologia
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Reflexão segundo as leituras do 5º Domingo da Páscoa
Jesus: a Pedra Angular
Estamos vivendo o tempo pascal no qual meditamos a ressurreição de Jesus e o surgimento das primeiras comunidades cristãs. Através das leituras dos Atos dos Apóstolos temos um retrato destas comunidades com suas esperanças e desafios, como também a narração da experiência do Cristo, a Pedra Viva, que se tornou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14, 6) para aqueles que O decidiram seguir.
Temos, pois neste quinto Domingo da Páscoa uma experiência do Jesus histórico, ou seja, antes da sua morte e ressurreição a qual se dá pelos discípulos e outra, pela comunidade, que vivência o Cristo da fé após a sua ressurreição.
No evangelho proclamado (Jo 14, 1-12) temos um clima de despedida entre Jesus e os seus discípulos. O fato se dá após a ceia de despedida, momento este que Jesus lava os pés dos mesmos e, se coloca como modelo de serviço. A tensão atinge o coração dos apóstolos deixando-os perturbados (14,1). A experiência pessoalmente de três anos com Messias esperado será que chegaria ao fim? Seria uma despedida sem previsão de retorno?
As dúvidas são manifestas pelas duas perguntas feitas por Tomé e Felipe. Aquele pergunta a Jesus: “Senhor nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho” (Jo 14, 5)? E Filipe após a resposta de Jesus a Tomé, também pergunta: “Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta” (Jo 14, 8).
Para percorrer o caminho de Jesus pressupõe uma fé madura que não está isenta das realidades marcadas por problemas e desafios. Na primeira leitura (At 6, 1-7) diz Lucas, que os Apóstolos, agora sobre a fé do Cristo ressuscitado, se reúnem para escolher sete homens afim de que estes sirvam às mesas e, eles, continuem a pregação da Palavra (At 6, 4). A segunda leitura (1 Pd 2, 4-9) destaca a missão herdada dos primeiros apóstolos a anunciarem o Cristo, a Pedra Viva, que resgatou e fez das nações uma raça escolhida, um sacerdócio do reino, uma nação santa, e um povo conquistado (1 Pd 2, 8-9). Portanto, para cada momento de vivência da fé os discípulos pressupõem uma realidade concreta pautada por muitos “Tomés” e “Filipes”.
Podemos nos perguntar então, por que nos dias de hoje anunciar Jesus como caminho, verdade e vida tornam-se uma necessidade cada vez mais urgente? No Brasil desconhecemos uma época anterior em que se tenha tanto construído casas, edifícios, chega até faltar pessoas capacitadas para tamanha demanda. Isso nos leva a refletir: será que estes inúmeros edifícios terrenos são imagens dos edifícios espirituais que devem também ser construídos? Será que faltam apenas homens para servirem as mesas, como diz a primeira leitura, ou construtores nas obras de edifícios? Ou há do mesmo modo falta de pessoas que anunciem a Pedra Angular rejeitada pelos homens?
Para estas indagações São Pedro responde: “a vós, portanto, que tendes fé, cabe a honra” (1 Pd 2, 7). Cabe, portanto, a todos nós, homens escolhidos pelo batismo a mostrar aquele que vem do Pai, aquele que sem ele nada se pode fazer.
São muitos os que hoje vivem com o coração perturbado que não conhecem o Caminho porque não deram ouvidos a Jesus. Multiplicam-se extraordinariamente os que pedem que a eles mostrem o Pai. Cada vez mais cresce a multidão dos que vivem com Jesus, mas pedem sinais concretos, pois a sua fé exige figuras, retratos, algo concreto para confirmar que Cristo é o Pai.
A Igreja, porém na sua missão herdada de Cristo continua o esforço de mostrar o Cristo ressuscitado. A cada dia ela escolhe homens repletos do Espírito Santo para anunciar a Palavra e proclamar a verdade; usa a criatividade, o diálogo, como caminho para mostrar Jesus; Esforça-se, através do Evangelho anunciado, para dar e mostrar respostas em meios a tantas encruzilhadas nas quais a sociedade está imersa e pergunta qual o caminho a seguir; enfim, por meio do serviço aos excluídos e esquecidos das mesas ela quer dá o Alimento e chamar das trevas para a luz maravilhosa os que se encontram perdidos nas desilusões da vida;
Concluindo podemos nos perguntar: que espécie de pedras somos nós na construção da nossa Igreja local, em nossa comunidade, em nossa Paróquia? somos, de fato, pedras que procuram ajustarem-se umas às outras, em harmonia com a “Pedra angular”? ou pedras que se opõem umas às outras e se eliminam mutuamente? Que “Templo espiritual” estamos nós a construir? Jesus não é um mágico. Ele não quer fazer de nós, mágicas e nos transformar em peças de surpresas, mas conta conosco e precisa de nós para levar a diante o caminho como fonte de verdade e vida responsáveis pela construção do seu Reino no mundo.
POR: Wagner Carvalho
Seminarista do 4º Ano de Teologia
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Reflexão segundo as leituras do 4º Domingo da Páscoa
A voz do Bom Pastor
O quarto domingo da páscoa é considerado o "Domingo do Bom Pastor". Jesus se apresenta como a porta e ao mesmo tempo, o Pastor que cuida das ovelhas desgarradas e as leva para o seu redil, por isso, o tema central da nossa reflexão se baseia na escuta da sua voz.
Neste quarto domingo da páscoa, de modo especial, a Igreja no mundo inteiro reza pelas vocações sacerdotais e religiosas, pedindo ao dono da messe que envie pastores segundo seu coração, homens e mulheres apaixonados pelo seu reino e pelas suas ovelhas.
Em um mundo cada vez mais tecnológico, marcado pelo consumismo, poder e relativismo das verdades plenas, falar de Jesus como o Bom Pastor ou a porta, bem como, usar figuras das ovelhas quando se referir às pessoas, talvez, sejam termos que não repercutem tanto nas realidades dos dias de hoje.
No entanto, Jesus se apresenta como o pastor, como aquele que conhece suas ovelhas pelo nome, ou seja, pessoalmente. Em outras palavras, para Cristo a pessoa vale mais daquilo que simplesmente ela produz. Ele chama cada uma pelo seu nome e, apresenta-se preferencialmente como "o Pastor", cuja ação se contrapõe a dos dirigentes judeus que se arrogam o direito de pastorear o "rebanho" do Povo de Deus, mas sem serem "pastores".
O pastor, por sua vez, é sempre diferente do mercenário. Aquele trabalha pelo bem de seu povo, sem esperar por recompensas e usa de sua autoridade para que o mesmo povo escute a sua voz. O mercenário, diferentemente, trabalha pelo salário e se servem das suas prerrogativas para explorar o povo e usam a violência para se manter sob a sua escravidão (bandidos). Aproximam-se do Povo de Deus de forma abusiva e ilegítima, porque Deus não lhes confiou essa missão ("não entram pela porta"): foram eles que a usurparam. O seu objetivo, portanto, não é o bem das "ovelhas", mas o seu próprio interesse.
Como então seguir a voz de Cristo, o Bom Pastor, nesta sociedade em que muitos se apresentam "sou eu" e assaltam a fé do nosso povo? Como se tornar um pastor verdadeiro, autêntico, uma vez que, as ovelhas se encontram também desgarradas (1Pd 2, 25) e procuram portas abertas para entrarem e encontrarem verdes pastagens? O que falar para tantas multidões que repetem a mesma aclamação daquelas que ao ouvirem Pedro no dia de Pentecostes, perguntaram: o que devemos fazer (At 2, 37)?
Em primeiro lugar, Cristo chama as "ovelhas". Ele chama-as pelo seu nome, porque conhece a cada uma. Não obriga ninguém a responder-Lhe; mas as que responderem ao seu chamamento farão parte do seu "rebanho". A essas, Jesus conduzirá "para fora" (Jo 10,3), pois o seu reino não é deste mundo e nem deve se instalar em antigas tradições, muitas vezes, geradoras de opressão e de escravidão; mas serem membros de uma comunidade humana nova, a comunidade do novo Povo de Deus. Depois, o "pastor" caminhará "diante das ovelhas" e estas Lhe seguirão (Jo 10, 4). Cristo indica-lhes o caminho, pois Ele próprio é "o caminho" (Jo 14,6) que leva à vida plena. As "ovelhas" seguem Jesus no caminho do amor e do dom da vida, a fazer d?Ele a sua referência fundamental, a aderir a Ele de todo o coração.
Mais do que nunca se faz urgente a missão do pastor nos dias de hoje. São inúmeras as portas abertas que, indicando aparentemente o caminho da felicidade, do dinheiro fácil, da fama, querem atrair nosso povo e seduzi-lo para o grupo "dessa gente corrompida" (At 2, 40). São muitas as portas, no entanto, a Porta verdadeira é a que se situa na comunidade dos fiéis a Cristo que testemunham a ressurreição de Cristo sendo Ele mesmo o acesso ao caminho da salvação tanto aos pastores, para entrarem, quanto aos rebanhos, para saírem rumo às pastagens. Como dizia o Papa São Gregório Magno: "nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim".
Para concluir utilizemo-nos de um "chavão" usado atualmente pela Igreja católica que é o de irmos atrás das pessoas afastadas da vida da comunidade de fé. Ora, a Palavra de Deus refletida para este quarto Domingo da Páscoa, apresenta Cristo como o pastor que vai à frente das ovelhas e estas o seguem; por que então devemos ir atrás daquelas que se encontram distantes se na verdade o pastor é quem as guia? Entendo que é pelo fato, de termos confundido o referencial da porta que é Jesus. Pode ser que de guias nos tornemos guiados pelo povo e seguimos as suas inclinações. Talvez tenhamos dado mais ouvidos a vozes de programas de maior audiência na TV do que a voz do Bom Pastor, que é o próprio Cristo. Tenhamos observados as fazendas e esquecido de olhar as pastagens onde nelas as ovelhas pastam. "Procuremos, portanto, alcançar essas pastagens, onde nos alegraremos na companhia dos cidadãos dos céus... que a fé se afervore nas verdades em que acreditamos; inflame-se o nosso desejo pelas coisas do céu. Amar assim já é pôr-se a caminho" (São Gregório Magno).
POR: Wagner Carvalho
Seminarista do 4º Ano de Teologia
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TEOLOGIA: Implicações morais da vida do fiel nos sacramentos da Igreja
A presente reflexão não tem interesse mostrar qual é o agir moral da pessoa para receber os sacramentos, tampouco, mastigar quais são os passos para recebê-los. Mas parte da presunção de que, uma vez recebidos, eles possuem uma estrutura ética que o fiel deve corresponder com sua vida.
O tema desta reflexão não são as implicações morais dos sacramentos na vida do fiel, ao contrário, são implicações morais da vida do fiel nos sacramentos. Vejamos que não são os sacramentos que ditam as normas como eles devem ser recebidos, mas como deve ser o agir moral do fiel para eles serem vividos e transformados em ações sacramentais no dia-a-dia.
Qualquer uma religião pressupõe uma categoria antropológica universal, ou seja, antes da mesma se tornar oficialmente religião, ela é constituída por grupos de pessoas que estudam seus costumes, mitos, língua, valores, etc. deste modo, a sua vinculação religiosa está estreitamente ligada ao seu ethos social.
A teologia católica dos sacramentos e a sua doutrina social são exemplos desta realidade inseparável. A teologia sacramental não identifica apenas as palavras de Jesus, mas também a origem dos gestos proféticos de d’Ele, do seu agir na vida com o povo.
Neste ínterim, nasce à pastoral como um meio de tornar conhecidos e aplicados os ritos litúrgicos destes sacramentos na vida do fiel, levando em consideração os seus costumes e realidades, fazendo com que tais ritos não se tornem alheios e estranhos aos seus comportamentos.
No entanto, a realização dos sacramentos não é um acréscimo opcional na vida pessoal. Não é um dever facultativo, um esforço moral para cumprir com a tradição. As implicações morais dos sacramentos na vida da pessoa devem desembocar numa acolhida livre e amorosa da graça de Deus recebida e, prolongar na sua vida seus efeitos de bondade e santidade correspondendo com uma moral implícita presente já na dimensão ritual da religião.
Com o desabrochar da doutrina iluminista, para a qual o cristianismo não seria necessário para o desenvolvimento moral da pessoa, e a filosofia progressista de Augusto Comte, a qual afirmava o homem ter, em um primeiro momento, um estágio mítico, a teologia sacramental cada vez mais se sentiu na responsabilidade de responder com argumentos dizendo que Cristo é o sacramento por excelência e, por isso, necessário e, que a Igreja em sua sabedoria confirma uma ortopraxia sacramental do próprio Cristo, ou seja, sua auto-doação por meios dos sacramentos como a eucaristia, o matrimônio e a ordem.
Por outro lado, a Igreja é o lugar do encontro entre o humano e o divino. Ela se encontra no intermediário entre o céu e a terra que, fazendo memória dos sacrifícios de Cristo, celebram os sofrimentos também do homem e, administrando os sacramentos antecipam o futuro em uma realidade presente. Na Igreja então, celebramos o que é do céu com mãos humanas, o que é divino na terra dos homens. Portanto, os efeitos dos sacramentos são transmitidos pela Igreja, mas vividos pelo fiel na sua vida, por isso, exige uma conformidade do seu agir com sacramentos recebidos.
POR: Wagner Carvalho
Seminarista do 4°. ano de Teologia
Seminarista do 4°. ano de Teologia
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“O que ides conversando pelo caminho”?
Celebramos neste terceiro domingo da páscoa a ressurreição de Jesus que vem ao encontro dos discípulos e se faz um caminhante com eles. Em sua caminhada humana, Jesus freqüentemente toma a iniciativa de se aproximar propondo-se como o Caminho Verdadeiro que conduz à Vida. Ao lado dos sentimentos de todas as mães recordamos também o seu dia, elas que são geradoras da vida e testemunhas do Senhor na família e na sociedade.
O que ides conversando pelo caminho? Esta foi à pergunta que Jesus fez aos dois discípulos que iam para o povoado de Emaús. Na verdade, a imagem do caminho tem um destaque significativo na Bíblia, tanto num sentido teológico, tanto para o povo do Primeiro Testamento, como do Segundo. Só para dar um exemplo: na liturgia que celebramos, neste domingo, a imagem do caminho aparece por sete vezes.
Mas, antes de falarmos dele, ou seja, do caminho se faz necessário sentirmos o clima que afetava aqueles caminhantes do Evangelho, pois a desolação era grande, os sonhos tinham acabados e as expectativas de um rei triunfante não tinham passado do pesado lenho da cruz, enfim, suas esperanças tinham sidas frustradas. Eles voltavam para recomeçar suas vidas entre as sombras do dia em declínio e a escuridão que ameaçava seus ânimos.
Neste momento, Jesus se aproxima e começa a caminhar com eles. Como vimos, a iniciativa é de Jesus. Ele não interrompe o assunto, mas toma a atitude de caminhar com eles, escutá-los e descobrir sua realidade. A escuta é para entender o que se passa no caminho deles. Aproxima-se e dispõe-se a conhecer e sentir de perto as suas necessidades.
Nesse caminho, Jesus ouve as dúvidas e os questionamentos dos dois caminhantes, ou seja, é o próprio Cristo que caminha conosco. É ele que se aproxima e entra em nossa realidade. Ao contrário da atitude de Cristo, porém, muitas vezes damos respostas sem ouvir as perguntas. Vamos ensinando o que achamos necessário sem ouvir o que está no coração do ouvinte.
Interessante perceber ainda que um dos caminhantes não aparece seu nome na narrativa. E por que não aparece? Isso para mostrar que Jesus vem ao encontro não somente dos reconhecidos, daqueles que tem nome, mas, sobretudo, dos desconhecidos, dos excluídos, dos esquecidos, dos insignificantes que além de reconhecê-los, os inclui no convívio dos reconhecidos.
Entretanto, são muitos os aspectos que poderíamos destacar na liturgia deste terceiro domingo da páscoa. Poderíamos falar do Querigma, de Jesus como aquele que nos conduz a Deus, da glorificação de Cristo, do cumprimento das Escrituras, da catequese e da Eucaristia.
E é, pois, sobre este último aspecto, a Eucaristia, que desejo terminar a minha reflexão. Diz o evangelista que os discípulos reconheceram Jesus ao partir do pão. O que significa realmente “partir o pão hoje?”
Compreendo que não é apenas dar comida a quem está com fome, ou água a quem está sedento. Mas vai muito além, partir o pão hoje requer que nos esforcemos em abrir os olhos daqueles que estão cegos nas drogas; requer que aqueçamos os corações congelados do egoísmo, do subjetivismo; partir o pão hoje é partilhar a Palavra com aqueles que estão indo embora de nossas igrejas, que não participam mais de nossas celebrações.
Partir o pão, acima de tudo, nos leva a reconhecer o Cristo. Quantas pessoas não encontramos pelos caminhos da vida que estão sem esperanças? Quantas não reconhecem o Cristo nos caminhos de suas vidas? Quantas não pedem ao Senhor para que fiquem com elas? No entanto, a resposta certa o evangelho nos dá: se os discípulos não insistissem para que Jesus ficasse, eles não teriam o reconhecido, ou seja, os lentos e sem inteligências de hoje são os que não participam das missas, são aqueles que caminham pela vida, cai a tarde de suas existências e não abrem seus olhos para reconhecer o Cristo ressuscitado.
Concluindo, vejamos que as dificuldades da vida sempre fazem parte do nosso caminho. Porém, quando se caminha com esperança, as suas pedras não são tropeços porque a Luz Verdadeira ajuda a clareá-las e a retornar o caminho para encontrar a comunidade reunida e aclamar: realmente o Senhor ressuscitou ou como reza o salmista: vós me ensinais vosso caminho para a vida junto de vós felicidades sem limites (Sl 15, 4).
POR: Seminartista Wagner Carvalho
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O encontro com o Cristo ressuscitado se dá na comunidade reunida
Reflexão a partir das leituras - 2º Domingo da Páscoa
Os evangelhos proclamados nestes dias são marcados pelas aparições do Jesus ressuscitado aos discípulos que estão marcados pelas alegrias, dúvidas, tristezas e medo. O clima é tenso. Uns o vêem e proclamam: vimos o Senhor! Outros saem desolados e caminham ao povoado enquanto ardem os corações. Neste segundo domingo da páscoa, temos uma dupla aparição de Jesus, além disso, celebramos outros fatos significativos como o chamado domingo da divina misericórdia, o dia do trabalhador, e a beatificação do Papa João Paulo II.
Neste domingo não temos leituras do Antigo Testamento porque ele cede seu lugar ao Novo. Temos, portanto, um dos mais comoventes discursos de Pedro sobre a Ressurreição de Jesus. Por isso, o cheiro de vida nova perfuma os lares dos cristãos que vivenciaram santamente a ressurreição de Cristo. Mas como proclamar a sua ressurreição nos dias de hoje? Como ele continua presente em nossas comunidades, em nossas vidas?
Nas experiências pastorais encontramos muitas pessoas que justificam as suas ausências na comunidade, nas missas, por já rezarem em suas casas, em seu quarto, lembrando daquela passagem que diz: quando fores rezar, entra no teu quarto, fecha a porta e reza a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, te recompensará ( Mt 6, 6 ). Não vamos, porém entrar aqui no contexto da citação porque lá a questão é outra, mas a citaremos apenas para buscar respostas no Evangelho deste domingo.
Para melhor entendermos podemos dividir o Evangelho deste domingo em dois momentos: o primeiro dos versículos 19 a 23 e o segundo dos versículos 24 a 31. No primeiro momento, Cristo se apresenta aos discípulos reunidos no primeiro dia da semana num clima de medo por causa dos judeus. Ele então chega e os saúda por duas vezes com “a paz esteja convosco” e sopra sobre eles dizendo recebei o Espírito Santo.
No segundo momento o evangelista relata a reação de Tomé. Este não estava presente no primeiro momento, ou seja, no primeiro dia da semana, mas se fazia presente oito dias depois. Era a sua vez, pois sussurrou da incapacidade de Cristo ressuscitar e só acreditava se colocasse seus dedos nas marcas dos pregos em Jesus.
Esta atitude nos leva a pensar na sociedade em que vivemos e como temos muitos “Tomés” inseridos nela. Infelizmente presos na sua primeira fase, ou seja, em desacreditar no Cristo. A ciência cada vez mais avança e, quer de qualquer modo, provas suficientes. Precisa tocar, sentir, experimentar. Sem falar de tantos que já não fazem mais a caminhada de Igreja, estão sempre ausentes da presença do Senhor, nas missas no primeiro dia da semana, isto é, nos domingos. A estes, o Evangelho responde que, quem não está na comunidade não vê o senhor.
Por outro lado, o encontro com o Cristo ressuscitado se dá na comunidade reunida. Ausente no primeiro momento, Tomé não acredita naquilo que os outros discípulos disseram, mas uma vez estando presente, na mesma comunidade, ele se encontra com o Senhor Ressuscitado e pode, então, professar sua fé: meu senhor e meu Deus (Jo 20, 28). De fato, o mistério de Cristo e o mistério do homem são inseparáveis, por isso, a Igreja nasce desta presença gloriosa e vive nesta presença, não se limitando a transmitir uma simples história.
Entretanto a paciência do Cristo ressuscitado para com aqueles que precisam tocar, pegar para crê, ou aqueles afastados da comunidade de fé vai mais distante do que podemos imaginar. Diz o evangelista que oito dias depois Cristo voltou. Interessante perceber aqui é que ele é quem vai ao encontro do grupo reunido com as portas fechadas. É viver em comunidade que se faz aproximar de Cristo e se percebe as dificuldades e necessidades dos outros, pratica o desapego e vive na paz do ressuscitado. Tudo isso nos leva a evitar que o cristianismo não é uma ideologia e uma vida espiritual de recordações, nem muito menos de uma observância moral ou exigência ascética, mas uma comunidade que se reúne convocada pelo próprio Senhor que se torna presente e atuante na mesma.
Portanto, celebrar o dia do Senhor nos possibilita fazermos uma experiência do Senhor ressuscitado que se coloca em nosso meio com as marcas da nossa humanidade, mas ao mesmo tempo, nos indica outros sinais que não foram escritos, nem vistos, mas pelos olhos da fé, nos são assegurados. Por isso, com a sua ressurreição nascemos para uma esperança viva que não mancha e nem murcha (1Pd 1, 4).
POR: Wagner Carvalho, Seminarista
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"O preço da condenação e o valor da salvação"
Reflexão segundo as leituras do Domingo de Ramos
Com a celebração do Domingo de Ramos damos início a Semana Santa. A liturgia deste dia traz presente um duplo movimento. De um lado, o mistério do despojamento total de Cristo tornando-se igual aos homens, do outro, seu senhorio e glorificação aclamada como Filho de Davi.
Para entendermos este duplo movimento faz se necessário respondermos a pergunta que está no Primeiro Evangelho proclamado deste domingo. Em Mateus 21, 10 perguntam-se: quem é este homem? Nas demais leituras, inclusive, no Evangelho da paixão podemos enumerar as seguintes respostas: para Judas, o traidor, Jesus é um escravo que tem o valor de sua época, ou seja, trinta moedas de prata (Mt 26, 15); para a multidão é o Filho de Davi (Mt 21, 9); para a cidade de Jerusalém ele é o profeta Jesus de Nazaré da Galiléia (Mt 21, 11); para Isaias, Jesus é o servo sofredor (Is 50, 4-7); para são Paulo, Cristo é o Filho de Deus que assume a condição de escravo tornando-se igual aos homens (Fl 2, 7); para Pilatos é o rei dos judeus (Mt 27, 11); para a sua mulher, é um justo (Mt, 27, 19); para os soldados de Pilatos, um rei (Mt 27, 28-29); por fim, após a morte de Jesus é o Filho de Deus (Mt 21, 54).
Contudo, a maneira como Jesus se apresenta contrapõe com estas concepções. Na verdade, Ele se manifesta como aquele que se angustia (Mt 26, 38); que grita Eli, Eli, lamá sabactâni (Mt 27, 46), mas igualmente como aquele que podia apelar ao Pai e este o colocava a sua disposição doze legiões de anjos (Mt 26, 53).
Todavia, nos chama ainda atenção a figura daqueles que se envolvem na cena da sua entrada e condenação em Jerusalém. Há poucos dias eles tinham presenciado a ressurreição de Lázaro e, se confirmavam cada vez mais as suas esperanças do Messias anunciado pelos profetas, de tal forma que se preparavam para ver e acompanhar a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém.
No entanto, o cenário aos poucos muda. Os cidadãos de Jerusalém têm dúvidas e perguntam quem é este homem. Os discípulos com quem Jesus conviveu os três últimos anos começam a se dispersar. Judas, por trinta moedas entrega Jesus. Pedro por três vezes O nega.
O que tudo isso tem a ver com os dias atuais? as nossas atitudes como discípulos de Jesus, podem ser as mesmas do afastamento dos discípulos do Mestre de ontem. Quantas vezes Cristo não desce até a nossa fragilidade, fazendo um fraco como nós, para nos resgatar e dar uma nova chance? Por quantas vezes Ele não caminho conosco, nas estradas, nos reerguendo ou nos fazendo chorar para que derramemos nossa alma diante d’Ele?
Talvez o sono dos discípulos de ontem seja a nossa mesma sonolência diante do convite de Jesus para rezarmos e vigiarmos mais. Os mantos vermelhos e as moedas de pratas estão sempre presentes em nossa realidade e podem nos transformar em seguidores de Jesus às escondidas. O que deve, de fato, nos marcar são os sofrimentos do povo que desatina no eco das estradas e erguem ramos de esperança em busca de um mestre que aclame e mostre o Filho de Davi!
Concluindo podemos nos perguntar: para quais dos movimentos, ascendente ou descendente, o nosso seguimento está direcionado? será que nos encontramos presos nos esvaziamentos da vida, nos preço das condenações, nos vasos de barro das moedas como fez Judas que não superou o remorso e preferiu dar fim a sua própria vida? Ou agimos como Pedro, reconhece a própria fraqueza, arrepende-se e chora amargamente, confiando, a cima de tudo, na glória do Senhor ressuscitado, no valor da salvação? Eis o nosso julgamento.
POR: Wagner Carvalho (Seminarista)
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