Cada um de nós é um Lázaro!*
A liturgia do Quinto domingo da Quaresma nos apresenta a Ressurreição e a Vida. Por meio da Perícope que relata a ressurreição de Lázaro, são apresentadas algumas características da vida humana, sua realidade, seus anseios, sua morte...
De fato, o homem na sua trajetória, arquiteta seu “palácio existencial”: sonha com sua dignidade, planeja suas ações, se esforça pelo melhor emprego, constrói amizades, espera por uma vida melhor. Ao lado disso, correm em suas veias os sinais do sofrimento, da doença, das limitações físicas, dos laços da morte.
A maneira como esses traços são apresentados na liturgia nos chamam atenção. As causas dos sofrimentos são diversas: opressão, exílio (Primeira leitura), viver segunda a carne, não ser morada do Espírito Santo (Segunda leitura), a angústia da doença e a dor da morte (Evangelho), são algumas que podemos citar.
Marta e Maria moram num povoado a três quilômetros da cidade e estão marcadas por uma limitação física. São mulheres acolhedoras e possuem muitas amizades (v. 19). Porém, uma coisa lhes tira a paciência: seu irmão está doente e Jesus não sabe, Ele precisa ser avisado e assim o fazem (v. 3). O recado expressa a intimidade da amizade e a confiança em um amigo (v. 3).
No entanto, parece que Jesus não se apressa em corresponder aos anseios da tamanha esperança. Ele permanece por mais dois dias, de tal forma que, quando decide ir e chegar à Betânia, seu amigo Lázaro já estava sepultado fazia quatro dias, ou seja, Jesus chega na hora mais difícil. A morte havia sido mais forte que as esperanças das irmãs. De fato, quando a morte chega, ela interrompe o nosso existir e o nosso convívio. Deixa um saudoso vazio, nos faz chorar. Ela nos sensibiliza, levanta perguntas e nos deixa meditativos.
Mergulhadas nestes sentimentos Marta vai ao encontro de Jesus (v. 20), e Maria cai aos seus pés (v. 32), ambas repetem a mesma frase: Senhor, se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido (vv. 21. 32). Jesus se sensibiliza com o momento, Ele sente a dor, se comove, mas permanece firme. Ele sabe que a vida é mais forte que a morte e, esta não é capaz de destruí-la.
Jesus, então, vai ao túmulo. É a Vida que caminha em direção à morte para vencê-la. O diálogo começa e a livre Vida ameaça as amarras da morte. O Novo Adão resgata o velho adão. O homem novo é resgatado dos atalhos do homem velho.
É bem verdade que Lázaro depois morreu novamente, pois nele houve apenas um “reavivamento”. Mas, além disso, o Evangelho quer nos mostrar que a figura de Lázaro, encerrado no sepulcro e amarrado em faixas, personifica o discípulo que, ao convite do Senhor, necessita sair do seu mundo, de seu túmulo, de sua caverna, para ganhar a vida.
O sofrimento causado pela doença, pela morte não tem fim em si mesmo, pelo contrário, nossas fragilidades servem para manifestar a grandeza de Deus em nossas vidas. São nestes momentos que pensamos em Deus, mandamos “recados” nas orações e d’Ele esperamos uma visita.
Nos dias de hoje as lágrimas do choro de Jesus (v. 35) lavam milhares de túmulos. Quantos de nossos irmãos e irmãs, não se encontram amarrados pelo egoísmo, presos por mil coisas? Isolados em seu próprio mundo? Quantos deles não correm até Jesus para que Ele “cure” sua crise financeira? “Cada um de nós é um Lázaro! Muitas vezes amarrados, mortos, sem enxergar a verdadeira luz.
Cada vez mais, portanto, se faz urgente a necessidade da aproximação com Jesus. Precisamos ser amigos da Vida, pois o que vai completar a ressurreição é a nossa amizade com Cristo. Ele jamais nos prova sem nos oferecer uma porta de saída e nem se conforma com o abandono e a morte de ninguém. Por isso, confiantes podemos rezar com o salmista: no Senhor ponho a minha esperança; a minha alma espera no Senhor, mais que o vigia pela aurora (Sl 129, 3).
POR: Seminarista Wagner Carvalho
POSTAGEM: Júnior Sá
Nenhum comentário:
Postar um comentário